1 de julho de 2009

A REVOLUÇÃO DOS PERUS

(ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FRAGMENTADAS SOBRE "A REVOLTA DOS PERUS”)



"Muitos (ainda) veem as criações artísticas como negação do mundo real em
que vivemos; — afinal, delas deve emanar alguma beleza única, rara, transcendental, eterna talvez, impossível de ser realizada aqui… Porém… ignoram
eles que o encanto é um arco-íris que, após uma tempestade, desaparece do horizonte mas se fixa na memória de quem contemplou suas cores. Pode-se dizer, portanto, que o encanto da peça teatral “A revolta dos perus”, do grupo Pandora (que é o maior milagre cultural do bairro Perus/ S. Paulo) está no momentâneo ato de revelar, e preservar, as passagens multifacetadas do Tempo na História — ato que revela, preservando, as angústias e os sonhos de um belo mundo. Não há, logo, como encenar essas passagens sem variar os tons: assistimos, em sequencia, a um caricato patrão capitalista e opressor (contudo incapaz de impedir a luta dos trabalhadores “queixadas”) e, depois, a uma mulher que se contrapõe a vozes ditatoriais que silenciavam a verdade da década de setenta (séc. XX). Comédia e Drama, em uma mesma peça, perfuram aos olhos do espectador, e modulam a História da qual faz parte um bairro pobre de S. Paulo. E, em meio a tantas variações de tons, valores como liberdade de expressão e pensamento, e luta por melhores condições de vida, são revelações preservadas pela arte do grupo, assim como o arco-íris em nossa memória.A arte não escapa ao mundo, e nem o nega, pois o revela; mas, mesmo que ela nos pareça desenhar lágrimas e risos amargos, semelha ao arco-íris que ainda persiste em surgir depois de uma tempestade — para fixar-se em nossa memória como utopia de um belo mundo por realizar. E a peça encenada pelo grupo Pandora tem esse poder de persistir no seu ato de revelar."
Comentou: Ailton Bosinho, Professor, Poeta e Coordenador do Projeto Phone Raps. Sobre a apresentação do espetaculo "A revolta dos Perus" no CEU




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