21 de janeiro de 2014

Sobre o Relicário de Concreto e a Fábrica de Cimento Portland Perus.


Em cena Nessah de Alvarenga e Rodolfo Vetore. Foto por Luh Silva.
       

           O espetáculo “Relicário de Concreto” propõe uma reflexão acerca da história da Fábrica de Cimento Portland Perus, destacando o período da Greve dos Queixadas entre 1962 e 1969.
       As memórias dos trabalhadores da fábrica atuam como disparadoras do espetáculo e para uma reflexão poética sobre questões que abordam relações trabalhistas e o sujeito revolucionário nos dias de hoje. A antiga fábrica fica localizada no bairro de Perus. Inaugurada em 1926, foi a primeira fábrica de cimento do Brasil a atingir uma produção em larga escala, além de ter sido a maior fornecedora de cimento para todo o país, na primeira metade do século XX.
       Sua fundação data de um momento específico da industrialização brasileira, empreendimento da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perús (CBCPP) resultante de um consórcio entre a Companhia Industrial e de Estrada de Ferro Perus-Pirapora e comerciantes canadenses. Sua inauguração foi realizada com muito entusiasmo pela imprensa paulistana, que a citava como a fábrica mais moderna e completa do mundo. O cimento Portland Perus contribuiu diretamente com a verticalização da cidade de São Paulo e foi a principal fonte de renda para muitos trabalhadores imigrantes, migrantes e moradores da região, possibilitando o crescimento do bairro de Perus que se expandiu em torno dela.
       Além disto, a Fabrica de Cimento Portland Perus foi palco e símbolo de movimentos de resistência, tendo o maior período de greve operária já registrado, a greve “dos Queixadas" (1962-1969), movimento que se estendeu por 7 anos, adentrando o período da ditadura militar no Brasil. Este acontecimento , marca a história do bairro e, principalmente, influencia  gerações.
       A busca incessante por lucro, por parte dos donos da fábrica e da lógica capitalista, gerou péssimas condições de trabalho, causando grande desgaste aos trabalhadores e ao bairro como um todo; os primeiros funcionários realizaram diversas reivindicações, conseguindo até algumas modificações no estatuto do trabalhador. Entretanto, a falta de investimento acabou gerando um alto nível de poluição que marca profundamente o local por conta do pó emanado de suas chaminés. Esse foi, aliás, um dos fatores que levaram ao encerramento de suas atividades em 1987.
       Hoje a Fabrica sofre a degradação natural do tempo e o abandono total por parte de seus proprietários, transformando-se em ruína. Foi tombada como patrimônio histórico da humanidade em 1992 e, desde então, existem diversas tentativas de revitalizar o local, transformando-o em um centro de cultura da memória do trabalhador destinado aos circuitos culturais locais e intervenções artísticas variadas.
       Trata-se, enfim, de uma história que se encontra solidamente inserida no cotidiano da população, plena de potencialidades para o debate sobre as relações entre história, memória, educação e arte. Promover esse debate entre os espectadores, professores, alunos e comunidade é o objetivo maior deste projeto.
Por Lucas Vitorino

            

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