Em cena Nessah de Alvarenga e Rodolfo Vetore. Foto por Luh Silva. |
O espetáculo “Relicário de Concreto” propõe uma reflexão acerca da história da Fábrica de Cimento Portland Perus, destacando o período da Greve dos Queixadas entre 1962 e 1969.
As memórias dos trabalhadores da fábrica
atuam como disparadoras do espetáculo e para uma reflexão poética sobre
questões que abordam relações trabalhistas e o sujeito revolucionário nos dias
de hoje. A antiga fábrica fica localizada no bairro de Perus. Inaugurada em
1926, foi a primeira fábrica de cimento do Brasil a atingir uma produção em
larga escala, além de ter sido a maior fornecedora de cimento para todo o país,
na primeira metade do século XX.
Sua fundação data de um momento
específico da industrialização brasileira, empreendimento da Companhia
Brasileira de Cimento Portland Perús (CBCPP) resultante de um consórcio entre a
Companhia Industrial e de Estrada de Ferro Perus-Pirapora e comerciantes
canadenses. Sua inauguração foi realizada com muito entusiasmo pela imprensa
paulistana, que a citava como a fábrica mais moderna e completa do mundo. O
cimento Portland Perus contribuiu diretamente com a verticalização da cidade de
São Paulo e foi a principal fonte de renda para muitos trabalhadores
imigrantes, migrantes e moradores da região, possibilitando o crescimento do
bairro de Perus que se expandiu em torno dela.
Além disto, a Fabrica de Cimento
Portland Perus foi palco e símbolo de movimentos de resistência, tendo o maior
período de greve operária já registrado, a greve “dos Queixadas"
(1962-1969), movimento que se estendeu por 7 anos, adentrando o período da
ditadura militar no Brasil. Este acontecimento , marca a história do bairro e,
principalmente, influencia gerações.
A
busca incessante por lucro, por parte dos donos da fábrica e da lógica
capitalista, gerou péssimas condições de trabalho, causando grande desgaste aos
trabalhadores e ao bairro como um todo; os primeiros funcionários realizaram
diversas reivindicações, conseguindo até algumas modificações no estatuto do
trabalhador. Entretanto, a falta de investimento acabou gerando um alto nível
de poluição que marca profundamente o local por conta do pó emanado de suas
chaminés. Esse foi, aliás, um dos fatores que levaram ao encerramento de suas
atividades em 1987.
Hoje a Fabrica sofre a degradação
natural do tempo e o abandono total por parte de seus proprietários,
transformando-se em ruína. Foi tombada como patrimônio histórico da humanidade
em 1992 e, desde então, existem diversas tentativas de revitalizar o local,
transformando-o em um centro de cultura da memória do trabalhador destinado aos
circuitos culturais locais e intervenções artísticas variadas.
Trata-se, enfim, de uma história que se
encontra solidamente inserida no cotidiano da população, plena de
potencialidades para o debate sobre as relações entre história, memória,
educação e arte. Promover esse debate entre os espectadores, professores,
alunos e comunidade é o objetivo maior deste projeto.
Por Lucas Vitorino
Nenhum comentário:
Postar um comentário